Reuniões serão agendadas nos bairros para analisar ajustes do IPTU em São Sebastião
25-02-2014
As discussões em relação à insatisfação dos moradores com o reajuste
da Planta Genérica de Valores, que impactou no aumento do Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU) tendem a se intensificar pelos bairros de São
Sebastião.
A proposta foi apresentada pela Comissão do Movimento IPTU Sem Abuso e
acatada pelo presidente da Câmara, Marcos Tenório, que respondeu ao pedido
por meio de um ofício apresentado na reunião da última sexta-feira, dia 22,
na sede do Esporte Clube Barra do Una.
A reunião foi organizada pela Federação Pró Costa Atlântica, com membros da
comissão e integrantes das Sociedades Amigos de Bairros da Costa Sul de São
Sebastião e reuniu 85 pessoas.
Entre as pessoas presentes, estavam três técnicos da administração municipal,
que foram explicar o procedimento adotado no reajuste do IPTU, moradores da
região e também os vereadores do PSB, José Reis de Jesus Silva e Edivaldo
Pereira Campos (Teimoso), Ercílio de Souza (SDD) e Gleivison Gaspar (PMDB)
O apoio do Legislativo ao movimento, visando intermediar as conversações
entre contribuintes e o Executivo, foi evidenciado por Tenório desde a
primeira manifestação realizada na Câmara Municipal. No dia 10 de fevereiro,
ele se reuniu, em seu gabinete, com representantes das Associações de Bairros
da Costa Sul quando foi definido o encontro promovido sexta-feira, 22, em
Barra do Una. No ofício 012/2014, de 11 de fevereiro, o presidente da Casa solicitou
ao prefeito Ernane Primazzi que designasse técnicos com competência na
questão do IPTU para participar da reunião com os moradores.
Em outro ofício, nº 018/2014, de 19 de fevereiro, encaminhado à Comissão do
Movimento IPTIU Sem Abuso, Tenório explicou sua posição em relação à Carta
Pública que trata do reajuste da Planta Genérica de Valores. “Sou da opinião
de que é necessário manter o diálogo com a sociedade com o objetivo de
prestar informações e esclarecimentos sobre a cobrança do imposto. Com esse
propósito e, sabendo que os integrantes desta comissão também estão imbuídos
do mesmo espírito, que é o bem da sociedade, sugiro o agendamento de reuniões
nos bairros para que, em conjunto, vereadores, membros desta comissão e
representantes da população, possam comparar os valores das plantas genéricas
(antes e depois do reajuste) e analisar se ocorreram equívocos”, explicou
Tenório.
Ele também frisou, no ofício, que “qualquer alteração nos termos da Lei
Municipal nº 167/2013, que estabelece os critérios de cobrança do IPTU, só
poderá ser modificada pelo gestor da cidade, no caso o prefeito, em razão da
matéria ser de iniciativa do Executivo, por se tratar de gerar receita para o
município”. Ele também se comprometeu, como representante do Poder Legislativo,
em “intermediar o diálogo entre o Poder Executivo e a Comissão do Movimento
IPTU Sem Abuso, para que as propostas da sociedade sejam entregues e
analisadas com o objetivo de sanar possíveis injustiças”.
Questionamentos
Durante encontro em Barra do Una,
organizado pela Federação Pró-Costa Atlântica e Sociedade Amigos do bairro
(Sabu), o presidente da Câmara Municipal, Marcos Tenório, pediu
esclarecimentos técnicos sobre as alterações no IPTU. Diretor da Secretaria
da Fazenda, Ricardo Veloso, explicou que foi alterada a listagem da Planta
Genérica, que há 11 anos não era atualizada, determinando valores unitários
do metro quadrado em todas as áreas, listando 8.700 quadras em todo o
município. O reajuste foi baseado em estudo realizado entre 2010 e 2012 com
avaliações de corretores de imóveis da cidade para atualização da Planta
Genérica. Segundo Ricardo, nesse estudo alterou somente o valor territorial
do imóvel.
Entre as questões apontadas pelos
participantes, representantes de Maresias pediram informações sobre como foi
calculado o IPTU sobre áreas devolutas, onde não se tem a titularidade da
terra.
Nesses casos, o município é prejudicado, pois não pode firmar convênios
visando repasses de recursos e investimentos por parte dos governos Estadual
e Federal. Veloso explicou que essa é uma questão jurídica, mas que também
foi levada em conta, uma vez que o “levantamento considerou as
características de cada região”. O procurador da Prefeitura, Ubirajara
Vicente Luca, explicou que a correção dos valores venais segue as normas
estabelecidas pelo Código Tributário Nacional.
Já o corretor de imóveis e
integrante do movimento, Silvio Braz, pediu mais informações sobre o estudo e
lista dos corretores que participaram do levantamento pois é corretor e
desconhecia esse fato. Ele também questionou a “cobrança de 3% do ITBI a cada
transação, inclusive de imóvel de posse, quando não é permitido esse
recolhimento”, afirmou o corretor. Veloso disse que o Imposto Sobre Transação
de Bens Imóveis (ITBI) incide na venda do imóvel e o código municipal permite
a cobrança inclusive no caso de direitos possessórios. Ele explicou que o
imposto só pode ser gerado quando ocorre a transmissão do imóvel com registro
em cartório.
Silvio Braz também apontou o caso do embargo, há mais de 15 anos, no
loteamento da Juréia, onde não se é permitido construir, com casos de
reajustes de até 900%. Exemplo foi apresentado pelo contribuinte Antonio
Rubens D´Agostini, que possui um terreno de 1.009 m² na Juréia, cujo valor
venal passou da casa dos R$ 21 mil para R$ 210 mil, com aumento de 975%.
Tenório lembrou que há 283 casos sendo analisados e que é preciso estudar
reajustes considerados abusivos. “Não queremos enganar ninguém, mas a Câmara
não pode criar despesas e nem retirar dinheiro do Executivo. Podemos levar
propostas para estudo dos casos”. Segundo Tenório, o reajuste do IPTU tem
situações justas e também casos injustos que precisam ser revistos. “Não é
justo que uma pessoa que more em área privilegiada ou na beira da rodovia
pague o mesmo do que quem mora no morro”, afirmou.
Audiência e Contrapartidas
Vice-presidente da Sabu, Wilson
Bussacos, frisou sua indignação com relação ao problema e à votação do
projeto pelo Legislativo. Ele acha difícil conseguir reverter a situação
junto ao Executivo e disse que se confundiu valorização do imóvel com aumento
de renda. “Ninguém teve aumento de 800%”, disse. O presidente da Sociedade
Amigos da Praia de Boracéia, Antonio Mouro, afirmou que o aumento do IPTU,
considerado abusivo, não se justifica em função dos últimos reajustes
salariais.
Ele deu seu exemplo de aposentado que teve aumento médio de 33% no IPTU
enquanto o reajuste na aposentadoria foi de 5% “Como vamos pagar?”,
questionou Mouro lembrando que o IPTU também sofreu reajustes anuais de
acordo com o índice inflacionário. Ele afirmou que as benfeitorias deveram
ser vinculadas ao imposto.” Boracéia não recebeu um tostão do imposto que
pagamos”, argumentou. O presidente do Sindicato dos Servidores Municipais,
Ivan Moreira, defendeu os funcionários presentes ao encontro por estarem
fazendo o seu trabalho e afirmou que os servidores também foram prejudicados
com aumento, em média, de 70% no IPTU, enquanto os salários foram reajustados
em 5%.
Moradora em Barra do Una, Maria Lúcia Farrenberg, questionou se a lei que
reajustou o IPTU (Lei Municipal nº 167/2013) seguiu o rito da audiência
pública, caso contrário, segundo ela, a lei não seria válida. ”É uma questão
de encaminhamento jurídico”, disse. Ela também condicionou o aumento aos
serviços prestados à comunidade. “Quais as melhorias urbanas verificadas aqui
há 10 anos para a valorização da área? Apenas algumas ruas foram calçadas e
não temos retorno de melhorias urbanas”, declarou. O procurador da Prefeitura,
Ubirajara Luca, explicou que o Regimento Interno não exige audiência pública
no município.
A representante do Sertão de
Cambury, Fabiana Medioli, também reclamou da falta de investimentos no bairro
para justificar esse aumento. “Não temos serviços. Faltam professores,
médicos, remédios, obras. É injusto. Todos sofreram com o aumento”. Ela
lembrou que os vereadores vão sofrer pressão em todos os bairros e elogiou a
iniciativa da Câmara em intermediar as conversações com o Executivo. Ela
também abordou outro problema: o valor da taxa do lixo que aumentou o IPTU.
Posição
Ao considerar importante a reunião
para discutir o polêmico tema do IPTU e o apoio da Câmara Municipal ao
movimento para intermediar conversações com o Executivo, o representante da
Sociedade Amigos de Toque Toque Grande, Fernando Puga, pediu aos vereadores a
possibilidade de defenderem um teto de aumento junto ao prefeito. Ele também
solicitou que os parlamentares presentes se posicionassem sobre o assunto e
assumissem o compromisso de ajudar “caso também tenham achado alguns valores
abusivos”.
O vereador Gleivison Gaspar (PMDB),
que votou contra o projeto, lembrou que o prefeito, em entrevista à imprensa,
disse que “não voltaria atrás”. Ele considerou o aumento uma “atitude
irresponsável” e disse que, mesmo se o reajuste ficasse em 30%, ainda deveria
ser discutido. Para o vereador do PSB, Edivaldo Pereira Campos (Teimoso),
essa é uma “herança maldita. Se o aumento tivesse ocorrido nos últimos anos,
não estaria acontecendo isso agora”. Colega de partido, José Reis de Jesus
Silva, disse que se fosse falar em um teto de reajuste, deveria ficar entre
5% e 10% e seguir a correção normal pelos índices inflacionários. Ele também
considerou alguns casos abusivos e afirmou que os vereadores querem ajudar a
encontrar soluções para os problemas. Segundo Reis, é preciso criar outros
mecanismos de receita que não venham a incidir em reajuste de impostos como o
IPTU. Para o vereador Ercílio de Souza (SDD), houve reflexo grande na
atualização da Planta Genérica de Valores que não ocorria há muitos anos. “A
preocupação é como pagar, pois muitos são assalariados e aposentados. Um
caiçara que pagava R$ 500,00 passou para R$ 7.000,00. É injusto porque a
Costa Sul é carente de investimentos. Acho que o aumento foi abusivo e
estamos vivendo uma instabilidade”.
O presidente da Câmara Municipal, Marcos Tenório, pediu o voto de confiança
dos moradores e defendeu a realização de reuniões nos bairros que serão
coordenadas e agendadas pela Comissão do Movimento IPTU Sem Abuso. Segundo
Tenório, é importante ter um ou dois representantes de cada bairro para
debater o tema com a comissão nesses encontros com a presença do Legislativo.
Ele acredita que é necessário um levantamento minucioso dos casos abusivos
para que possam ser encaminhados ao Executivo visando solução dos problemas
apontados. Ao encerrar o encontro, o presidente da Sociedade Amigos de Barra
do Una, Raul Cardinali Júnior, declarou aos vereadores: “o povo está com vocês,
mas queremos vocês do nosso lado”.
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